por Rodrigo Colla
Não sei o que de fato assusta mais, a gripe A ou o pânico generalizado em torno dela. Talvez seja, esse medo mórbido do ar, o primeiro indício do fim dos tempos. Quando tudo temermos de forma crônica, creio que todos os sentidos levarão à morte por múltiplos contágios e todos os quatro elementos palpáveis – prescindindo-se o éter – serão hospedeiros de microorganismos letais.
É a hora e a vez de ter medo do ar. Ele que já está na berlinda há tempos por ser o hospedeiro de moléculas de fumaça que nem se sabe mais que infinidade de podridão conterão. Agora traz um vírus novo, o da gripe A, de “ar”. Para nos protegermos dele, o ar, lançamos a nova moda das máscaras, o chavão de que “a dor ensina a gemer” dessa vez tornou-nos estilistas por excelência. Se rumarmos para o fim do mundo, pelo menos teremos sido a vanguarda das máscaras, já que cansamos da luta política, desistimos da arte e desdenhamos o espírito para reificarmos nossas metas e sonhos.
Terão muitos se dado conta da semelhança que o cenário atual tem com o dos filmes de “ficção científica” – que talvez devam começar a ser classificados em um novo gênero, o dos filmes proféticos, por exemplo?
Hoje nos dizem: “não fiquem em locais fechados”. Ora, no passado, nos deram a entender: enclaustrem-se entre quatro paredes, quaisquer que sejam elas. Tiraram-nos os cinemas de rua e as lojas, as galerias, para entulhar salas e salas dentro de shoppings centers. O intuito: proteger-nos de nossos semelhantes.
Agora a violência do ar ganha as páginas dos jornais e, convenhamos, dele é mais difícil se defender. Enquanto o medo cerceava-se apenas a coisas visíveis, ainda podíamos, de certa forma, nos protegermos dos “males” restringindo-os a algumas áreas. Como já fizemos com o fogo, com a água, com certos animais e até com semelhantes. Não obstante, agora, de volta à infância, temos medo do “escuro”, do invisível.
sábado, 8 de agosto de 2009
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