sexta-feira, 11 de abril de 2008
Povoados dos Sonhos, por Rodrigo Colla
Mentes dos sonos
De trabalhadores laboriosos, repletas
Não mintamo-nos o que somos
Mesmo que reste do pesadelo escombros
Ergueremos deles Eus vigorosos, espíritos poetas
Edifiquemo-nos jubilosos, vivamos
Providos de altivez e bem-aventurança
Andemos ao lado da mãe esperança
E quando chamados para outro plano sigamos
Num onírico divagar de eternas lembranças
No cirandar infantil da sapiência, em nossas andanças
E se no sonho estiver eu amordaçado
E almejar cantar o mais alto
Que jamais cantei
Sonhar com o canto que sempre sonhei
No sonho que estiver a sonhar
Sonho será o canto que não soará
Mas prodigioso e enigmático seguirá
Reverberando no vácuo sonhador
Inaudível ao seu próprio senhor
Intrépido a cantar
Atrás da mordaça
Sim, existe esperança
E se inalcançáveis forem, horizontes de infinitas nuanças
Com nesgas de sol entre nuvens de bonança
Meus olhos lá estarão vendados
E por debaixo das vendas verão os astros
Verão a primavera-verão de cores embriagadoras
Serão olhos cegos para todas as horas
Num onírico piscar de sonhos fechados
Até que se abram cegos para a vida lá fora
Devaneio Consistente, pelo mestre divagador Aldous Huxley (trecho extraído do livro "Também o Cisne Morre")
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Europerniciosa, por Rodrigo Colla
Perdoe-me Pai por fazer parte disto
Por andar no rumo deles omisso
Por passar pelo lado de fora da vida
E, inerte, vê-la cercada como prisioneira
Rotulada como “área de preservação”
Parte de uma coisa (merda) maior chamada “Jardim Europa”
Nada disso é Europa
Embora impregnado com a sua mácula sórdida
Nada daqui os pertence
Muito menos esta flora
Embora cercada com suas grades
Nem o choro, nem a bossa nova,
Nem o nosso samba
Nem o choro de novo
Desta vez com a lágrima
Daqui nada os pertence, nada
Embora os atraiamos para investimentos
E com regalos e carícias os adulemos
Embora tantos emboras
Não somos o seu jardim
Nem anões do seu quintal
Nem seus fantoches satisfeitos
Em pantomimas de um eterno carnaval
Aqui também se pensa
Aqui há quem repudie a sua presença
Sua Europerniciosieade fraudulenta
Aqui há quem possa se dizer brasileiro
Quem ainda empunhe arco e flecha contra seus veleiros
Quem desvende as suas mentiras
E firme e categoricamente diga
Sim, foram vocês, o Velho Mundo
Que visando apenas o seu cu e o lucro
Nos conveses das suas caravelas
Trouxeram-nos a dor e as favelas
E embora nossos pseudoeuropeus frustrados os implorem
Um remédio para a miséria da colônia
Não queremos suas migalhas
Europerniciosa metrópole Babilônia
Portanto, embora os emboras
Embora daqui Europa