sábado, 6 de junho de 2009

Um Átomo, por Rodrigo Colla

Não havemos de
esperar a derradeira hora
quando um abraço pode valer a vida toda
quando uma lágrima pode conter todo significado
de tudo que em vida foram miríades de significados esparsos
fincados em lapsos de um tempo inexistente

quando um sussurro pode ser o fim
e um estertor contiver a eternidade
condensada num só átomo pulsante e vivo
que não é tempo, não é vida, não é passado

Não havemos de
Deixar tudo para o final
Se desde já podemos ser salvos
Ou nos salvar aos poucos nessa linha imaginária
Que em nosso imaginário não é linha
é um infinito átomo

(Muito já chorei na infância em noites frias
Coberto de sonhos e cobertas
Envolto por esse globo atômico
Sabia que um dia eu teria um fim
Mas muito já sorri mais tarde
por essa propriedade do tempo de dar fim a tudo)

Findamos um pouco mais a cada atomozinho
A cada interstício que passa imperceptível

Podemos pensar no fim
Ou na significação

Significamo-nos também a cada infinitozinho a mais
Que nos passa, nos toca, nos faz sentir
E ver
Que há uma só vida em tudo
Há um único tempo
O presente
E um único espaço
Nós
Num intervalo irrestrito

Um átomo único
no espaço-tempo dinâmico
do infinito

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